16/05/13

Noa, melhor em Auschwitz




Por Júlio Béjar*
E queimá-lo-a o sacerdote sobre o altar, sobre a lenha, sobre o fogo. Num Holocausto, numa oferenda encendida, cheiro de suavidade para o Senhor”

(Levítico 1:16-17)

Dois anos após a Shoá, Alemanha foi novamente recebida como respeitável membro da comunidade internacional. Resulta politicamente incorreto dizer que Alemanha é uma nação de criminais -mas as enquisas amosam com terquedade que um 25% dos seus cidadãos, como mínimo, albergam sentimentos ánti-semitas.


Dois anos após a Shoá, Inglaterra votou contra o estabelecimento dum Estado judeu, e os EEUU abstiveram-se na votação das Nações Unidas.


Israel sofreu inumeráveis embargos de armas (que, curiosamente os árabes jamais, padeceram). Como resultado direto das sanções impostas, as baixas israelitas durante a Guerra de Independência chegaram ao 7% da sua população.


Governo nenhum ou meio de comunicação europeu exprimiu o menor reparo pelo facto dos árabes terem assassinado e mutilado mais judeus durante os anos posteriores aos Acordos de Oslo (1993) que em todo o transcurso da Guerra do Yom Kippur.

Marton Gÿongÿosi, sinistro líder do emergente partido razista Melhor Hungria, vem de solicitar que se configure uma lista negra de judeus. Similares chamamentos faz a cotio o partido Ataka em Bulgária, Novo Amanhecer grego ou os camisas pardas do partido sueco Sverigedemokraterna, entre dúzias de formações que desinibidamente ouveam a sua mensagem de ódio por todas as esquinas da velha Europa.


Numa enlouquecida aposta por não ser menos, AGE, a formação populista encabeçada por Xosé Manuel Beiras, que obteve para vergonha de quem os votaram nove escanos nas derradeiras eleições galegas, fez bandeira da sua negativa a condear em sé parlamentária o extermínio de seis milhões de judeus. Secundados pelos restos mais putrefactos do BNG. Não contentes, nestes dias AGE chama ao boicot contra a cantante vencelhada à esquerda pacifista israelita, Noa, pelo delicto de ser judia, questionando a sua limpeza de sangue e emulando a denúncia de “fedor judaico”, que nos mais escuros anos do franquismo protagonizara o benquerido mestre de Beiras, Vicente Risco.


A velha besta obsessionada com a destrucção dos judeus, de maneira sistemática e crônica, emerge nos rescoldos das lapas nestes dias de opróbio. Os assassinatos en massa dos cruzados caminho de Jerusalém, a Santa Inquisição, os progromos russos e na Ucrânia, a Shoá, são apenas alguns exemplos duma civilização tercamente juramentada em designar um “outro” carente de atributos humanos, investida duma criminal legitimidade para o saqueo, a violação e a massacre a vontade.

Se outrora os judeus usavam o sangue das crianças cristãs para os seus escuros aquelarres, hoje o libelo sacrificial é o sangue do fitício ente palestiniano.

Poucos ministros de exteriores mais moderados teve o Estado judeu que Abba Eban. Ele denominou com acerto as linhas israelitas anteriores a 1967 “as fronteiras de Auschwitz”.

A charcutaria industrial que leva meses desenvolvendo-se em Síria, o Estado de terror medieval implantado em Gaza, a ameaça certa dum armagedon nuclear promovida pelo regime dos paranoicos ayatolás, não ocupam nem a enésima parte do feroz despregue mediático que suscita qualquer mínimo incidente ou a tímida réplica do Estado hebreu ante o permanente ataque com mísseis contra as suas povoações no sul do país.

E alguns, mais uma vez, semelham conjurados com a única obsessão de cingir o Estado de Israel dentro das fronteiras do Holocausto.

* escritor e socio de AGAI