Por Fernando del Rio, sócio fundador da Asociación Galega de Amizade con Israel
O “affaire Valadés” é muito grave. Pelo que supõe de atentado indiscriminado contra a dignidade de uma pessoa, a actuação do BNG resulta completamente reprovável. Porém, acredito em que uma pausada leitura entre linhas é necesária. O caso é revelador. Muito revelador. Descobre que muitos no BNG estão insuficientemente impregnados do alicerce ético inalienável: a veneração dos sacros dereitos individuais. Proclamam acreditar na existência de objectivos trascendentes –seja a libertação nacional ou a de classe- justificadores das suas acções e bálsamos para as suas conciências. Estes objectivos, qualificados de dereitos colectivos polos fieis, situam-se por cima dos dereitos individuais –individual é um epíteto se aplicado a dereito- pois trascendem a miudeza das pessoas dada a sua natureza divina. Embora foram à escola desde cativos, ainda não entenderam porque os parisinos gilhotinaram uma cabeça coroada.A verdade revelada plasma-se em dogmas, inquestionáveis pelos adeptos, tais como o anti-imperialismo ou o anti-sionismo. E qualquera pode ser acusado de hereje –tu, leitor, também- pois os vagos dogmas sempre podem ser interpretados e manipulados convenientemente para executar o seu secreto e inominável cometido: queimar no lume da fogueira aqueles que não se submetem aos desígnios da hierarquia imbuida da graça divina. Porque afinal sempre é o mesmo conto, no BNG ou no Palmar de Troya.
Os deuses não são mais que os ídolos sacados em procissão pelos sacerdotes gordos como cochos. E o Pedro renunciou a adorar becerros de ouro. As frequentes purgas no BNG têm demostrado que esta organização carece de instituições que dirimam os conflitos internos de jeito independente. Instituições neutrais que apliquem regras do jogo conforme procedimentos claros e transparentes, garantam a defessa do acusado e presumam a sua inocência. E no “far-west”, Lynch impõe a sua lei. Os linchamentos públicos tornam-se regra. A chusma maioritária, convenientemente incitada pelos adalides da vingança, avassala a minoria desvalida. Porque, todos sabemos que logo de sumaríssimo juiço, a iníqua condena do Pedro G. Valadés é ante tudo um acto de ignominiosa vingança.